sexta-feira, 31 de março de 2017

Dom Inocêncio sem asfalto, Dom Inocêncio sem voto. Cansados de promessas do governo, inocentinos bloqueiam a PI-140 e protestam pela continuação do asfalto

"Inocentinos não irão ás urnas se asfalto não sair"

Sexta-feira, 31 de março de 2017. Na fatídica data que marcou a queda do regime democrático e instituiu a ditadura no país há 53 anos, em 1964, a nação acordou novamente sob os gritos de protestos em todos os estados da federação contra a reforma da Previdência imposta pelo governo de Michel Temer.

Estrada com asfaltamento incompleto é a única via de acesso ao município (Foto: Derlizandra Marques/Arquivo Pessoal)
Foto: Derlizandra Marques/Arquivo Pessoal    G1/Piauí

Bem distante das atenções e holofotes da grande mídia, isolado e sequer conhecido pelos brasileiros, um pequeno município  do semiárido piauiense , Dom Inocêncio, a 634km de Teresina, desperta ás quatro horas da madrugada   com seus moradores movidos pelo sentimento de revolta e cidadania que lembra a revolução de 1964, tamanho é o patriotismo e a união dos inocentinos, como são chamados os que nascem nesta terra, mais conhecida como "Terra dos Sanfoneiros".

Diferente do restante do país, a luta que tirou os inocentinos cedo da cama é outra. O que moveu boa parte da população inocentina - que gira em torno de nove mil pessoas - para seguirem juntos na madrugada chuvosa desta sexta-feira até o município vizinho de São Lourenço do Piauí a 80km de distância foi apenas o desejo de deixar de ser  uma terra isolada dos municípios vizinhos.

Os inocentinos cansaram. Cansaram de tantas promessas do governador Wellington Dias - que já está no terceiro mandato se encaminhando para o quarto em 2018 -  de que teriam uma ligação por asfalto para a sede da sua região, o Território Serra da Capivara, São Raimundo Nonato, conhecida mundialmente pelos seus sítios arqueológicos.

As obras do tão sonhado asfalto se arrastam desde 2011 quando foi iniciado e terminado um trecho de cerca de 18km partindo de São Lourenço com destino a Dom Inocêncio. Na campanha para governador em 2014, Wellington Dias chegou até a subir em um banquinho de couro e madeira improvisado no meio da praça das Palmas no centro da sede de Dom Inocêncio para dizer que o asfalto seria concluído, caso fosse eleito.
imagem: Gustavo Almeida

A imagem pode conter: 7 pessoas, pessoas em pé, atividades ao ar livre, texto e natureza
imagem: Gustavo Almeida
Manifestantes bloquearam a rodovia e só liberaram a passagem de ambulâncias (Foto: Derlizandra Marques)

Manifestantes bloquearam rodovia e só liberaram passagem de ambulâncias (Foto: Derlizandra Marques) G1/Piauí




As obras reiniciaram ano passado, mas passados seis meses, apenas serviços de terraplanagem na estrada foram feitos em cerca de 20km. do total de 55km que ainda faltam para chegar à sede inocentina. No meio do ano, as obras foram paralisadas novamente até o presente momento.

Nós da Cristal, com sede em Dom Inocêncio, assim como todos os inocentinos e os que necessitam trafegar pela via, sentimos na pele os transtornos que a falta de uma ligação por asfalto com São Raimundo provoca sobretudo no período chuvoso.

Ir à Dom Inocêncio é uma verdadeira aventura que muitos evitam com medo de ficarem pelo caminho, devido as péssimas condições da estrada. 



Estamos totalmente de acordo e apoiamos o movimento que luta por uma causa mais do que justa, "Dom Inocêncio sem asfalto, Dom Inocêncio sem voto". Estrada é vida, estrada é progresso. Por ela passam pessoas, mercadorias, equipamentos, e facilita o acesso ao desenvolvimento de um município e região.
Ao bloquear a pista,  os inocentinos estão demonstrando um sentimento de força e união e prometem impedir a entrada do governador Wellington Dias e outros políticos no município enquanto as obras não forem retomadas e o asfalto concluído. 

As festividades do município começam no meio do ano e atraem muitos políticos para Dom Inocêncio que não serão bem vindos à Terra dos Sanfoneiros caso o asfalto não saia. Foi o que prometeu um dos idealizadores do movimento, o inocentino Agnaldo Macedo.

imagens: G1/Piauí
texto: Raimundo Campos