domingo, 5 de fevereiro de 2017

DE PETROLINA PARA SÃO RAIMUNDO VIA REMANSO: A LENDA QUE SE DESFEZ

blog Novos Horizontes
Confira o relato de um casal que veio visitar a Serra da Capivara em São Raimundo Nonato e ficou na dúvida ao chegar em Petrolina-PE entre vir por Remanso-BA ou Afrânio-PE.
"Desde o início do planejamento da viagem tínhamos uma dúvida: quando estivéssemos em Petrolina, qual caminho pegaríamos para São Raimundo Nonato?
A dúvida não surgiu por acaso. Com as pesquisas, descobrimos que existiam duas alternativas de trajeto para quem estava em Petrolina. Uma mais longa em 80 km, porém toda asfaltada, que iria pela divisa Pernambuco/Piauí até a cidade piauiense de Afrânio e de lá seguiria para São Raimundo Nonato. Já a outra, mais curta, porém com 50 km de estrada de chão, seguiria pela divisa Pernambuco/Bahia até a cidade baiana de Remanso e de lá seguiria para São Raimundo.
Até aí, tudo bem, já que, pra mim, melhor seria pegar 50 km de chão e economizar 80 km em distância total de percurso. O tamanho da dúvida começou a evoluir quando decidimos dar uma olhadinha em alguns relatos encontrados na internet.
Os relatos eram bastante desanimadores (e de tão dramáticos, até engraçados), já que diziam que a estrada era intrafegável, com muitas crateras intransponíveis e que, de tempos em tempos, surgiam notícias de assaltos por essas bandas.
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Placa cravada a balas ainda permanece na estrada, caracterizando o período “sombrio” da rota
Era quase que unanimidade que a estrada por Remanso não valeria a pena (a essa altura eu já estava com uma pulga atrás da orelha com essa estrada). Diante disso, desencanei de decidir esse caminho naquele momento de planejamento (planejar não é mesmo meu forte) e resolvi ver quando já estivesse em Petrolina.
Chegado o momento de tal decisão, fomos procurar informações com um funcionário do hotel onde estávamos hospedados em Petrolina, afinal “nada melhor do que alguém da região para nos dar essa informação”, pensei.
Quando perguntei sobre as condições da estrada de Remanso, logo percebi um semblante sério no rosto do rapaz. Até pensei que tivesse feito algo errado, falado um palavrão ou coisa do tipo. Logo veio a contraindicação: “Não aconselho. Trabalhei por essa região algum tempo e essa estrada é horrível. Lá só tem buracos e crateras enormes. E tem mais! Os bandidos costumam se vestir de policiais para simularem blitz e realizarem assaltos. Se eu fosse você, gastaria um tempo pouca coisa maior e iria por Afrânio.”
O rapaz não sabia, mas, por algum motivo incompreendido, a sua contraindicação teve o efeito contrário. Afinal, porque não ir por Remanso? A Lu enviou uma pergunta para a guia que iria nos receber em São Raimundo sobre os possíveis assaltos nessa região, ela então respondeu falando que isso tinha sido há muito tempo atrás e que já não existia mais. Era o que faltava para batermos o martelo na nossa decisão.
Chegado o dia da tão esperada viagem, seguimos em direção a Remanso. Esse trecho tinha tudo para ser super tranquilo, com retas intermináveis e pouco movimento.
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Porém um ingrediente surpresa apareceu para modificar a situação: animais na pista! Sim, e eram muitos, dos mais variados, tinham jegues, cavalos, bodes, carneiros, porcos, cachorros… Apareciam do nada, em grupo, solitários, brotavam do asfalto. Ou surgiam das miragens produzidas pela lei da refração. Não tinha como dirigir tranquilo, pois a todo instante aparecia um bicho na sua frente. Terrível.
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Chegando em Remanso, ainda restavam aproximadamente 100 km até São Raimundo, sendo que os próximos 50 km seriam da infame estrada de chão. Logo na saída da cidade, percebo algo parecido com asfalto no centro da estrada, porém andar pelo acostamento se revelou um caminho mais seguro e confortável a seguir.
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Nos quilômetros iniciais surge uma mulher que parecia acenar para nós, e eu, sem entender direito, apenas continuei. Depois de alguns quilômetros, a parte de asfalto desapareceu e a tão temida estrada de chão se revelou por inteira para nós. Porém, logo percebemos se tratar de uma estrada de chão comum. Nada de crateras e buracos intransponíveis, mas sim, muitas costelas de vaca e pedras durante todo o trajeto (devo admitir que foi até meio decepcionante). Conseguíamos desenvolver velocidades de até 60 km/h, nada mal para uma estrada de chão.
Até a metade do trajeto, tudo ia bem, entretanto, notei pelo retrovisor um grande rastro de poeira e logo percebo que vinha um carro atrás de nós a toda velocidade. A paranoia tomou os meus pensamentos – “Um carro pequeno, nessa velocidade, nessa estrada… Só pode ser alguém querendo nos assaltar e aquela mulher que tinha acenado para nós queria nos dizer alguma coisa”.
Apenas comento brevemente com a Lu, ligo a tração 4×4 e começo a acelerar. Estamos flutuando e chacoalhando na estrada de cascalho e costelas de vaca a 80 km/h, olho no retrovisor e lá está ele, o corsinha branco na nossa cola. – “Puta que pariu, esse cara vai mesmo nos assaltar?” – penso eu.
Foi quando encontramos um outro carro na nossa frente. Comento com a Lu: – Vamos ficar atrás desse carro, e o “assaltante” não vai poder fazer nada. E assim chegamos no asfalto. Logo, o carro da frente sumiu no horizonte e fomos ultrapassados pelo “assaltante”. Passada a histeria, andamos mais 40 km, até chegar em São Raimundo Nonato, sem sermos assaltados, obviamente, gastando apenas 4 horas de viagem, contra as 5 horas previstas no caminho por Afrânio, e totalmente inteiros.
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Concluindo, se você não se importar em pegar uma estrada de chão, com suas costelas, pedras e poeira e quiser economizar quilometragem e tempo nesse trajeto, esse caminho por Remanso é uma excelente alternativa. Carros pequenos trafegam perfeitamente por lá. É lógico que as condições dessas vias podem mudar muito de uma época pra outra do ano, mas não acreditem em tudo que ouvem por aí. Procurem sempre o máximo de informações, e, se possível, atualizadas."

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