sábado, 17 de outubro de 2015

Acordes do Campestre é berço de música em São Raimundo Nonato. Salvador Nunes, criador do projeto, realiza sonho antigo


No coração do sertão funciona um projeto que faz inclusão social. Ele atende cerca de 65 a 70 crianças a partir de 6 anos de São Raimundo Nonato e que estejam devidamente matriculadas na escola. 

É o Acordes do Campestre, coordenado pelo músico Sandrinho do Acordeon, que pôs em prática o sonho do pai    
Salvador Nunes, à esquerda, que pertence a uma família de grandes talentos musicais em Dom Inocêncio, com seu filho Mestre Sandrinho do Acordeon
O projeto iniciou apenas como um incentivo cultural na cidade de Dom Inocêncio no ano 2000, quando Salvador Nunes já ensinava música, de forma voluntária, a todas as pessoas interessadas por música e nessa leva de alunos estavam os próprios filhos.
Em 2004, com a iniciação de Sandrinho do Acordeon na carreira artística, surgiu a iniciativa de criar o projeto e o desejo de ajudar as crianças ganhou força. Daí, os primeiros alunos foram crianças da vizinhança e com a expansão do Acordes Campestre envolveu crianças e adolescentes da região de São Raimundo Nonato.
“O Acordes do Campestre tem como alicerce a proposta de levar as crianças e jovens a terem uma melhor formação cidadã, qualidade de vida e, principalmente, a esperança de um futuro melhor”, diz a voluntária Polyana Matos.

Crianças e adolescentes têm aulas gratuitas de música em São Raimundo Nonato (Foto: Projeto Acordes do Campestre)
Sandrinho no Zabumba iniciando as crianças na sanfona
Sandrinho ressalta que através da Escolinha Comunitária Acordes do Campestre, os alunos têm iniciação musical e talentos são descobertos. “Nossa missão é formar cidadãos usando a música como principal ferramenta. O objetivo principal é estimular a criatividade, responsabilidade e respeito, tendo o instrumento musical e a própria música como transformadores da realidade diária de cada um de seus participantes”, diz Sandrinho.
Batizado como Acordes do Campestre desde 2011, o projeto envolve 12 voluntários diretamente. “Contamos com músicos, contadores, advogada, administradora e projetistas”, diz Sandrinho, lembrando que os alunos têm aulas práticas e teóricas de sanfona, violão, teclado, flauta, percussão, guitarra e contrabaixo. “Também ministramos aulas de partitura e de canto”, diz, enfatizando que as aulas são ministradas de segunda a sexta das 16h às 19h, com turmas divididas em grupos de no máximo 12 alunos. Cada aluno tem em média 2 anos de curso prático.
No projeto, professores e alunos trabalham repertório mais do que especial, com destaque para o forró que faz parte da alma nordestina. “Trabalhamos com músicas de Luiz Gonzaga, Dominguinhos, Targino Godim, Alceu Valença, Zé Ramalho, Geraldo Azevedo e outros. Mas também incentivamos a tocar músicas da MPB e pop rock”, comenta Sandrinho, revelando que o sonho do grupo é gravar CD e DVD, mas tudo vai depender de recurso financeiro.
“Temos que buscar parceiros que entendam que é importante incentivar esses tipo de projeto, que vai além da música. Esses projetos salvam pessoas, salva o futuro de algumas crianças”, diz. Para o desenvolvimento de um projeto de alcance social, Sandrinho cita as parcerias importantes, como Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF) e a FUMDHAM.
Por trazer alegria e encantamento à cidade, a comunidade vê com bons olhos o projeto. “Mesmo assim, sentimos que ela poderia ser mais presente, apoiando mais para que nós pudéssemos atender mais e mais crianças”, diz.
O projeto já trouxe resultados positivos não só para cidade, mas para o Piauí. Através dele, já surgiram vários grupos, como Banda Sandrinho do Acordeon (alguns músicos foram formados no Projeto), Banda Gilvan Barrinha (todos os músicos foram formados no Projeto), Orquestra Mirim Acordes do Campestre (todos os músicos foram formados no Projeto). “Algumas bandas da região têm músicos formados no Projeto como, por exemplo, Banda Ricardinho do Acordeon, Marlonzinho do Acordeon, Netinho do Acordeon”, cita.
Natural da terra dos sanfoneiros, Dom Inocêncio, desde cedo Sandrinho começou a ouvir sanfona, zabumba, triângulo e Luiz Gonzaga, Dominguinhos. “E com o grande incentivo que tive com meu pai, ficou mais fácil. Sou descendente de uma família de muitos músicos”, explica, ressaltando que começou a tocar aos 12 anos de idade. “Meu primeiro professor foi meu primo Márcio Henrique e hoje toco sanfona, triângulo, zabumba e teclado”.
Projeto tem aulas de reforço escolar
Além das aulas de música, o Projeto Acordes do Campestre tem aulas de reforço escolar com a professora Polyana Barreto para auxiliar no desempenho escolar das crianças, incentivando-os a não parar de estudar.
No projeto, Polyana, que é formada em Administração pela UFPI e Geografia pela Uespi, desenvolve atividades de apoio administrativo e social, inclusive, com a mobilização para conseguir doação de instrumentos musicais e melhoria de espaço físico.
“Temos aula de cidadania com Tita Veiga, palestras sobre prevenção às drogas com membros da Policia Militar, palestras sobre preservação patrimonial com arqueólogos e biólogos”, diz.
Por ser formado e gerido por jovens carentes, o projeto necessita de apoio para manter suas atividades, além de instrumentos, roupas para apresentações e doações de quaisquer outros tipos, pois algumas de suas crianças fazem suas principais refeições na escola. “Desta forma, quando não há aula a sua alimentação fica prejudicada e, quando possível, cestas básicas são doadas a essas crianças”, conta.        fonte:Meio norte
Aulas de música incluem ainda outros instrumentos além da sanfona (Foto: Projeto Acordes do Campestre)