domingo, 31 de março de 2013

'Os Caretas', festa folclórica realizada em Sal, Dom Inocêncio, mantém a tradição da malhação do Judas

A tradicional manifestação de malhar o Judas, mais conhecida como 'Os Caretas', em Sal de Cima, continua viva e reunindo muitas pessoas na sexta-feira santa...Veja as imagens...


Demônios mascarados ou tradicionais guerreiros

O evento, realizado á noite, consiste na apresentação de pessoas mascaradas, os chamados 'caretas', munidos de chibatas e açoitando as pessoas que entram na roda. Claro que algumas regras são seguidas para não haver exageros na hora das chibatadas. Como se trata de uma encenação, as mulheres e crianças são poupadas e apenas as pernas são açoitadas pelos caretas, mas sem empregar muita força na chibata. 

A tradição da malhação do Judas é muito antiga no Sal de Cima e foi passando de pai para filho e hoje é realizada na casa do Sr. Everaldo onde pessoas de várias localidades, inclusive de outras cidades, como Remanso-BA e Petrolina-PE se reúnem para acompanhar o evento .

Histórico

O primeiro registro histórico da brincadeira está documentado no vídeo Os caretas de Lizarda, de Hermes Macedo e Marcelo Silva. Com 24 minutos de duração, o vídeo mostra como o profano e o religioso se misturam em uma folia mística e assustadora. A festa é pagã, pois a Igreja não a reconhece. Mas a brincadeira dos caretas é um ritual antigo.

A folia acontece durante a Semana Santa. Na sexta-feira, os moradores se dedicam às orações cristãs. Mas quando a igreja é fechada, no final do dia, entra em cena a festa dos caretas. Eles são como demônios mascarados que descem as serras para assustar a população e proteger as chamadas “quintas” – propriedades que são montadas pelos próprios moradores, e onde se guardam as produções de cana-de-açúcar, coco e banana. 

De acordo com a pesquisadora Leonídia Batista Coelho, o costume vem de Portugal. “Quando eles falaram que os caretas estavam ali para defender a quinta, isso me remeteu aos colonizadores”, disse a pesquisadora no documentário.

A brincadeira é realizada à noite, a folia é realizada no escuro mesmo, como sempre foi. 

A entrada dos caretas na fazenda obedece ao chamado do ronca-tripa - uma espécie de cuíca gigante, afinada no fogo, que marca o ritmo da brincadeira – e das cantorias das mulheres de Lizarda. Com chicotes nas mãos (pinholas) e usando máscaras feitas de buriti – planta típica do cerrado -, folhas e até pêlo de animais, os caretas anônimos invadem a roda e ameaçam aqueles que ousem invadir a quinta. 

Como numa luta entre o bem e o mal, eles não respeitam parentes, nem amigos. Jovens, mulheres, crianças e idosos: todos se sentem instigados a invadir a quinta e levar algum produto, mas qualquer um que se atreva é rapidamente castigado a chicotadas. 

Além dos mascarados, mais três personagens fazem parte da folia: a Catita, homem que se fantasia de mulher e se torna, na brincadeira, espécie de amante dos caretas - é ela quem agarra os moradores para que os mascarados os chicoteiem; a égua – uma mandíbula de boi articulada por um arame - é o animal do grupo; e o fantasma – um dos caretas se veste de branco para assustar as crianças.

E são elas, as crianças, as principais responsáveis pela perpetuação da tradição. Imitando os adultos, os pequeninos ensaiam o rito, sempre antes do folguedo, que se repete há cerca de 100 anos, sem que se explique ao certo o motivo de sua existência.

Registro da festa
Documentário: Os caretas de Lizarda, 2005
Direção: Hermes Macedo e Marcelo Silva
Duração: 24 minutos
Premiações: Cine ao ar livre - Porto Nacional (TO), em novembro; e selecionado para o Ano do Brasil na França, em agosto de 2005
Contato: oscaretas@uol.com.br






















Nenhum comentário:

Postar um comentário

utilize este espaço para comentar sobre a postagem. Escreva o que quiser, seu comentário não vai para moderação, pedimos apenas que não publique ofensas e se não quiser, não precisa se identificar.